21 de ago. de 2010

0017. Cypress Hill - Cypress Hill III: Temples of Boom [1995]


Olhando pra capa, mais parece um álbum de black metal, mas é um dos melhores discos de hip-hop que eu ouvi, embora seja um dos mais subestimados. A capa ilustra bem o tom do disco: fantasmagórico, atmosférico, dark... Por causa disso, pode lembrar um pouco trip-hop, mas ao invés de alguma voz feminina e/ou suave, temos a voz anasalada de B-Real, cantando sobre maconha, violência ou xingando Ice Cube (No Rest for the Wicked).

O grande lance do álbum é realmente sua produção, feita quase toda com samples próprios - ao contrário da maioria dos grandes grupos de hip-hop, que usam samples de outras músicas. Batidas lentas, teclados atmosféricos, pianos saídos de trilhas de filmes de terror, levadas de contrabaixo e cítaras indianas compõem alguns dos sons ouvidos no álbum.

TRACKLIST

01. Spark Another Owl
02. Throw Your Set in the Air
03. Stoned Raiders
04. Illusions
05. Killa Hill Niggas
06. Boom Biddy Bye Bye
07. No Rest for the Wicked
08. Make a Move
09. Killafornia
10. Funk Freakers
11. Locotes
12. Red Light Visions
13. Strictly Hip Hop
14. Let It Rain
15. Everybody Must Get Stoned

~ Link: Cypress Hill - Cypress Hill III: Temples of Boom

0016. Aphex Twin - Richard D. James Album [1996]


Talvez a obra-prima (disputada com drukqs) do maior nome da música eletrônica contemporânea, esse álbum é o segundo em que Richard D. James usa programações computadorizadas (o primeiro foi o álbum Hangable Auto Bulb, lançado sobre a alcunha AFX), ao contrário de suas experiências anteriores com sintetizadores analógicos. Isso acabou por marcar também uma mudança estilística em sua música: apesar de ainda manter traços da música ambient e do acid techno (dois gêneros em que é considerado um inovador), Richard faz inventar mais um termo: o drill & bass. A complexidade das programações transcende o drum & bass comum - cada timbre é meticulosamente programado, às vezes fazendo-nos crer que não se repete uma sequer batida a cada segundo, e o trocadilho se dá pelo fato de algumas batidas remeterem ao som de uma furadeira (drill). Porém, toda essa racionalidade no ritmo é contrastada com as melodias nostálgicas e atmosféricas, advindas do tempo em que fazia música ambient.

Um clássico do chamado IDM (Intelligent Dance Music) dos anos 90, é um dos meus favoritos de toda a música eletrônica.

TRACKLIST

01. 4
02. Cornish Acid
03. Peek 824545201
04. Fingerbib
05. Carn Marth
06. To Cure a Weakling Child
07. Goon Gumpas
08. Yellow Calx
09. Girl/Boy Song
10. Logan Rock Witch

~ Link: Aphex Twin - Richard D. James Album [1996]

20 de jun. de 2010

0015. Mike Oldfield - Tubular Bells [1973]


O primeiro disco lançado pela gravadora Virgin que, diga-se de passagem, é a melhor das gravadoras "maiores", chegando até a lançar discos de krautrock nos anos 70, sem contar o único dos Sex Pistols, um disco claramente anti-comercial, Never Mind the Bollocks, Here's the Sex Pistols. Enfim, Mike Oldfield tinha apenas 17 anos de idade quando compôs Tubular Bells, mas a composição só foi lançada 3 anos depois. Quase todos os instrumentos foram tocados pelo próprio Oldfield, num trabalho influente de overdub. O tema de abertura ficou famoso quando incluso no filme O Exorcista, de William Friedkin, naquele mesmo ano. O título da composição se deve ao instrumento (sinos tubulares) usado no clímax da primeira parte, que aparece também na icônica capa do disco, talvez inspirada no quadro surrealista de Magritte, Castelo nos Pireneus. Destaque também para o "mestre de cerimônias" Vivian Stanshall, antigo vocalista da Bonzo Dog Doo-Dah Band, que aparece no final da primeira parte, anunciando cada instrumento, e no infame estilo vocal que Mike canta na segunda parte, com grunhidos e gritos "inspirados" em homens das cavernas. De quebra, no final de tudo, temos um arranjo da tradicional The Sailor's Hornpipe, muito usada em desenhos animados.

TRACKLIST


01. Tubular Bells, Part 1
02. Tubular Bells, Part 2

~ Link: Mike Oldfield - Tubular Bells [1973]

7 de jun. de 2010

0014. Yes - Yes [1969]


Um excelente debut de uma das mais famosas bandas de rock progressivo. Eu acho incrível a química que essa banda tem. Prestando atenção em cada instrumento, separadamente, você vê o virtuosismo de cada músico, mas mesmo assim não fica aquela coisa maçante em que algumas bandas do gênero pecam em fazer: todo mundo masturbando o instrumento pelo bem da masturbação. Todos os integrantes/instrumentos contribuem particularmente para o todo, e se tirar uma dessas partículas, o todo se esvai. Eu achava que isso fosse apenas com a formação clássica da banda (com Steve Howe na guitarra e Rick Wakeman nos teclados), mas ouvindo este disco percebe-se que mesmo nessa primeira formação (com Peter Banks na guitarra e Tony Kaye nos teclados) já havia essa química.

A voz suave de Jon Anderson (que, acredito eu, tenha influenciado grande parte dos falsetes dos anos 70) é uma das mais confortantes da música popular. Ainda temos um cover dos Beatles, enquanto Beatles existia; um cover jazzístico dos Byrds, com citação de Bach no solo de guitarra; e um ótimo desfecho, que eu considero uma das melhores músicas deles, mesmo estando num álbum considerado "menor". Enfim, rock progressivo sessentista, ainda sem aquela ambição épica que se propagaria nos anos 70.

TRACKLIST

01. Beyond and Before
02. I See You
03. Yesterday and Today
04. Looking Around
05. Harold Land
06. Every Little Thing
07. Sweetness
08. Survival

~ Link: Yes - Yes [1969]

10 de mai. de 2010

0013. David Wise - Donkey Kong Country 2: Diddy's Kong Quest OST [1995]


Quando se fala em música de video game, geralmente nos deixamos levar pela nostalgia. Não que isso seja necessariamente ruim, mas podemos nos esquecer que são músicas como quaisquer outras. E os jogos podem ter trilhas horrorosas, bem como obras-primas dignas de ficarem lado a lado com discos renomados; músicas que acabam por possuir vida própria, independente do jogo. A trilha sonora do clássico Donkey Kong Country 2, do SNES, é um exemplo disso.

O estilo do britânico David Wise mescla sons naturais (mar, vento, chuva, insetos, pássaros) com composições ecléticas (música erudita, latina, americana, ambient), e um forte senso melódico e percussivo, que é o que dá toda a intensidade pela qual a trilha é conhecida.

TRACKLIST

01. Opening Fanfare
02. K. Rool Returns
03. Welcome to Crocodile Isle
04. Klomp's Romp
05. Lockjaw's Saga
06. Jib Jig
07. Swanky's Swing
08. Snakey Chantey
09. Bayou Boogie
10. School House Harmony
11. Forest Interlude
12. Funky the Main Monkey
13. Flight of the Zinger
14. Cranky's Conga
15. Hot-Head Bop
16. Run, Rambi! Run!
17. Token Tango
18. Stickerbrush Symphony
19. Bad Bird Rag
20. Disco Train
21. Boss Bossanova
22. Steel Drum Rhumba
23. Krook's March
24. Klubba's Reveille
25. Haunted Chase
26. In a Snow-Bound Land
27. Lost World Anthem
28. Primal Rave
29. Crocodile Cacophony
30. Donkey Kong Rescued
31. Stronghold Showdown
32. The Flying Krock
33. Kannon's Klaim
34. Bonus Intro
35. Bonus Defeat
36. Bonus Victory
37. Game Over

~ Link: David Wise - Donkey Kong Country 2: Diddy's Kong Quest OST [1995]

0012. Charles Mingus - The Black Saint and the Sinner Lady [1963]


Absolutamente intenso. Eu diria que é uma das melhores transposições do sentimento da desolação em formato de música. E, claro, uma das melhores orquestrações do mundo do jazz.

Das orquestras de Duke Ellington; do jazz vanguardista da época; e do flamenco espanhol, Mingus retirou suas influências pra compor este ballet de seis partes. Seu perfeccionismo levou o disco a ser o primeiro de jazz a ter a técnica de overdub. A riqueza de timbres, complexidade de ritmos, estranheza causada por dissonâncias, estilização étnica, são na verdade indescritíveis, tornando tudo o que eu tô escrevendo aqui superficial.

Pois só ouça e sinta:

TRACKLIST

01. Track A - Solo Dancer
02. Track B - Duet Solo Dancers
03. Track C - Group Dancers
04. Mode D - Trio and Group Dancers / Mode E - Single Solos and Group Dance / Mode F - Group and Solo Dancer

~ Link: Charles Mingus - The Black Saint and the Sinner Lady [1963]

0011. Burzum - Filosofem [1996]


Varg Vikernes e toda a cena de black metal que surgiu na Noruega, no começo dos anos 90, podem ser infames, mas que fazem um som do caralho, fazem. E este disco do Burzum é o ápice. Embora lançado tardio, ele foi gravado em 1993.

O black metal dessa época abraçou o conceito lo-fi, antes utilizado por bandas do rock alternativo. Sendo assim, Varg usou o amplificador de um aparelho de som, um pedal de distorção fuzz, daqueles usados nos anos 60, e um microfonezinho de fone de ouvido. E toda essa sujeira criando uma atmosfera, quase como no shoegaze. Teclados atmosféricos também são ouvidos no álbum, e fazem contraste com o som cru. Inclusive, Rundtgåing av den Transcendentale Egenhetens Støtte é uma faixa sem guitarras, totalmente ambient, e a maior do disco, com 25 minutos, prefigurando os álbuns que Varg gravou enquanto esteve preso.

TRACKLIST

01. Burzum
02. Jesu Død
03. Beholding the Daughters of the Firmament
04. Decrepitude I
05. Rundtgåing av den Transcendentale Egenhetens Støtte
06. Decrepitude II

~ Link: Burzum - Filosofem [1996]

8 de mai. de 2010

0010. Talk Talk - Spirit of Eden [1988]


O Talk Talk era uma bandinha de synthpop/New Wave até conseguirem dinheiro suficiente pra contratarem músicos de estúdio. Aí lançaram The Colour of Spring, que ainda deve muito à New Wave, mas tem bem menos sintetizadores que os álbuns anteriores. Por fim, radicalizaram e abandonaram todos os sintetizadores. Spirit of Eden é um álbum visto hoje tanto como o início do post-rock, quanto como a influência mais imediata.

Utilizando-se de diversos instrumentos do mundo erudito e jazzístico (piano, violino, clarinete, oboé, contrabaixo acústico, trompete, fagote), e misturando com os tradicionais instrumentos do mundo rockeiro e da música popular em geral (guitarra, baixo, bateria, gaita, piano de novo, órgão eletrônico), eles criaram um som denso, mas minimalista. A maneira como eles usam os instrumentos pra criar atmosferas é diferente do uso no pop barroco, por exemplo. Essa transcendência de gêneros abriu caminho para o que Simon Reynolds depois chamou de post-rock.

Pode-se dizer que é um álbum espiritual, como evidenciado pelas letras e sonoridade ascética. Isso é diferente de gospel, só pra constar (vai saber, né). Definitivamente, um dos meus discos favoritos.

TRACKLIST

01. The Rainbow
02. Eden
03. Desire
04. Inheritance
05. I Believe in You
06. Wealth

~ Link: Talk Talk - Spirit of Eden [1988]

5 de mai. de 2010

0008. Mr. Bungle - Disco Volante [1995]


Um dos álbuns mais bizarros, absurdos, sem pé nem cabeça, de todos os tempos. Pena que o Frank Zappa não viveu pra ouvir isso. Mesmo depois de anos que conheço, ainda estou digerindo este disco. Talvez essas 3 sentenças (e a capa) resumam o quanto de maluquice tu vai absorver se clicar no link de download aqui embaixo. Portanto, cuidado.

O álbum varia entre diversos e, por vezes, conflitantes gêneros como death metal, surf music, swing, free jazz, pop, música árabe, italiana, caribenha, tango, noise (muito noise), ambient, hardcore, techno, lounge, música de desenho animado, entre dezenas de outras coisas (eu realmente quis citar tudo isso pra dar uma noção). Mas o bizarro não é tanto isso, mas o fato de ter pelo menos metade disso em cada música. Mesmo que às vezes o som pareça estar são, não dá pra ter idéia do que vai acontecer daqui a 10 segundos: uma explosão de guitarras distorcidas junto com saxofones; um grito demente do Mike Patton; um silêncio abrupto; um bandoneón; teclados atmosféricos; vidros se quebrando; um naipe de clarinetes...

E a maluquice se estende também para as letras e temas, que falam sobre violência doméstica (Violenza Domestica), abuso infantil (After School Special), a angústia de um cara embaixo d'água (The Bends), lembranças mórbidas pós-época colegial (Everyone I Went to High School with Is Dead), a falta de identidade do ornitorrinco (Platypus), ou letras indecifráveis e/ou em línguas desconhecidas (Desert Search for Techno Allah; Ma Meeshka Mow Skwoz).

Reitero: cuidado!

TRACKLIST

01. Everyone I Went to High School with Is Dead
02. Chemical Marriage
03. Carry Stress in the Jaw
04. Desert Search for Techno Allah
05. Violenza Domestica
06. After School Special
07. Phlegmatics
08. Ma Meeshka Mow Skwoz
09. The Bends
10. Backstrokin'
11. Platypus
12. Merry Go Bye Bye

~ Link: Mr. Bungle - Disco Volante [1995]

0007. Matmos - A Chance to Cut Is a Chance to Cure [2001]


Poucas são as ocasiões em que os campos da medicina e da música se cruzam. Mais raro ainda quando isso acontece com tamanha genialidade.

Esse é um álbum conceitual, onde cada música trata de um tema médico: lipoaspiração (Lipostudio... And So On), cirurgia a laser (L.A.S.I.K.), teste de audição (Spondee), eletroacupuntura (Ur Tchan Tan Tse Qi) e rinoplastia (California Rhinoplasty). As exceções (ou talvez não sejam exceções, só não são tão diretas) ficam para as faixas For Felix (And All the Rats) que foi gravada em memória do falecido rato de estimação dos dois membros, e feita inteiramente com sons da gaiola do animal (tocada com um arco de violino e percutida); e Memento Mori, que é o termo em latim usado para relembrarmos que iremos morrer um dia.

Muito bem, mas agora que vem a maestria dos membros: fora a gaiola do rato, alguns instrumentos musicais, e sons devidamente eletrônicos, todos os samples são retirados... direto da fonte. Temos samples de tubos sugando gordura humana, de ossos se quebrando, de facas cortando pele, laser, máquinas cirúrgicas... Tudo reordenado ritmicamente. Para alguns pode ser agoniante... Por causa da infinitude de samples bizarros que eles se utilizam, a dupla sempre é categorizada como uma versão pop da musique concrète.

Ah, duas observações: engraçado o fato de eles usarem uma flauta nasal em California Rhinoplasty, enquanto há sons de outros narizes sendo destroçados; e também os sons de ossos em Memento Mori, sendo que o principal símbolo artístico do termo é o esqueleto, que representa a morte.

TRACKLIST

01. Lipostudio... And So On
02. L.A.S.I.K.
03. Spondee
04. Ur Tchan Tan Tse Qi
05. For Felix (And All the Rats)
06. Memento Mori
07. California Rhinoplasty

~ Link:
Matmos - A Chance to Cut Is a Chance to Cure [2001]